sexta-feira, 18 de março de 2011

Presidente da câmara alega que publicação tem “vocação partidária”

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Desde o dia 2 de Março que o jornal cultural “O Sul” está banido dos espaços públicos municipais, por ordem do executivo CDU. Maria das Dores Meira considera que a publicação está associada ao Bloco de Esquerda e afirma que “jornais que sejam de partidos políticos não entram” no município. Por sua vez, o conselho editorial do jornal caracteriza a medida como “ilegal”, “autoritária” e “fascizante”, não pondo de parte a hipótese de recorrer da decisão pela via judicial.

Vera Gomes

“O jornal O Sul não pode ser distribuído no município de Setúbal porque é um jornal cada vez mais político”. Foi desta forma que a presidente da câmara municipal começou por justificar a ordem de retirada de todos os exemplares daquele auto-intitulado jornal cultural, de todos os locais públicos da autarquia, incluindo a biblioteca municipal.

A questão foi levantada pelo vereador Fernando José, durante a reunião pública de anteontem, em que o socialista mostrou-se “admirado” com um comunicado de imprensa que dava conta de que tinha sido proibida a distribuição daquele boletim gratuito em espaços municipais. Pedindo esclarecimentos sobre as razões que levaram a tal acção, a bancada do PS apelou a que a situação fosse “revista pelo executivo”.

A dita nota de imprensa informa que, “por ordem do executivo camarário setubalense”, o jornal cultural e de debates “O Sul” foi “retirado dos espaços públicos municipais, a 2 de Março”.

Para o conselho editorial da publicação, “este tipo de acção politica não encontra outra justificação que não a da prática activa de censura”. No mesmo comunicado, os responsáveis alegam que “atendendo à clara restrição de opinião livre, O Sul vai apresentar queixa às autoridades competentes, naquele que é um dos mais duros golpes locais às liberdades da Revolução de Abril”.

Aparentemente irredutível, Dores Meira expressa que “aqui deixamos entrar os jornais que bem quisermos e jornais que sejam de partidos políticos não entram”. Justificando a decisão, a edil indica que “não se vê nenhum jornal do PS, PSD ou PCP nos espaços camarários, nem devidamente identificado, nem nada que se pareça”, disse, rematando que “o jornal tem uma vocação partidária: é do Bloco de Esquerda”.

Escusando-se a mais comentários, a autarca adianta que o assunto deverá ser “discutido nos tribunais, porque o jornal O Sul pôs a câmara nos tribunais”.

Também presente na reunião pública esteve Leonardo Silva, um dos elementos do conselho editorial de “O Sul” que esclareceu, relativamente “à grave acusação de partidarismo do jornal”, que “a multiplicidade de pessoas que escrevem os seus artigos de opinião para o jornal demonstra que tal tese é totalmente errada”, disse, adiantando que “até dirigentes do partido da presidente têm escrito na publicação e que também a presidente é a entidade mais entrevistada do jornal, ao qual já cedeu duas entrevistas”.





Em declarações a «O Setubalense», o responsável afirmou ainda que “se a presidente é incapaz de lidar com estas formas de liberdade e de expressão (…) isso implica que a presidente não quer outra visão que não a sua, nem quer assumir qualquer espécie de diálogo”.

Caracterizando a medida como “ilegal”, “autoritária e fascizante, sem precedentes”, Leonardo Silva manifestou que a presidente “devia reflectir sobre a acção que tomou contra o jornal e retratar-se, porque representa um partido que tem uma longa história contra a ditadura e o autoritarismo”.

O editor revela que o jornal “continuará na rua”, passando a ser distribuído, como encarte dos jornais “Sem Mais” e “Expresso”, passando de uma tiragem de 10 mil, para 40 mil exemplares. Segundo o responsável, esta mudança “comprova que nem o Expresso nem o Sem Mais, jornais que todos reconhecem pelo seu excelente trabalho, não iriam querer um panfleto partidário lá dentro”.

Alegando que a sua presença na reunião de câmara tinha como objectivo “fazer um apelo à presidente para voltar atrás na decisão”, Leonardo Silva diz ter ficado perplexo com a justificação apresentada pela presidente e adianta que “vamos falar com os juristas e advogados nossos amigos que se ofereceram para accionar todos os meios legais”.

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