quinta-feira, 28 de julho de 2011

Mercado do Livramento: Associação de Produtores Agrícolas insatisfeita com condições apresentadas

Insatisfeita com a proposta de condições, apresentada pela autarquia, para o futuro Mercado do Livramento, a Associação de Produtores Agrícolas dos concelhos de Setúbal e Palmela, reivindica mais bancas, com maiores dimensões, similares às dos restantes vendedores.

Vera Gomes

“A Associação de Produtores Agrícolas tem vindo a assistir, desde 2009, a várias medidas discriminatórias aos produtores agrícolas vendedores no Mercado do Livramento, por parte da Câmara Municipal de Setúbal, aos produtores agrícolas vendedores no Mercado do Livramento, designadamente na atribuição de lugares de venda no novo Mercado do Livramento”, começa por afirmar José Augusto Marques, da direcção da associação.

Lembro que em Maio de 2009, a mesma associação reclamou, perante o executivo, durante uma reunião pública, na Câmara Municipal de Setúbal (CMS), que fossem feitas várias alterações ao projecto de requalificação do Mercado do Livramento.

Na altura, o presidente da associação referiu que existiam oitenta agricultores que vendiam os seus produtos naquele mercado e que, o projecto de renovação apenas lhes atribuía quarenta lugares. Os agricultores reclamavam também que as suas bancas de venda deviam possuir “as mesmas dimensões que as dos outros vendedores”, além de obterem uma “boa disposição dos produtos que permita uma visibilidade agradável por parte dos consumidores”.

Numa nota de imprensa enviada a «O Setubalense», após ter reunido, anteontem, com a vereadora Carla Guerreiro, José Augusto Marques explica que os lugares de venda de peixe foram “exageradamente aumentados de área, sem razão legalmente obrigatória, roubando área geral no interior do novo mercado, que logicamente iria condicionar a arrumação das outras secções de venda”.

Ainda de acordo com a direcção da Associação de Produtores Agrícolas, os intermediários da secção agrícola e outros produtos também viram algumas bancas passar a ter áreas de 9, 12, 14 e mais metros de frente, diminuindo ainda mais a área que fazia falta para os restantes vendedores, “sobretudo para os produtores agrícolas, que desde sempre foram um chamariz para o mercado, além do peixe, claro”.

“Vem agora a CMS propor que os produtores agrícolas fiquem confinados a uma área mínima, que, na maioria dos dias de venda, resultaria na ocupação de cerca de 1,30 metros de frente, enquanto os outros ocupam 12 metros e mais, criando desequilíbrio entre vendedores e uma flagrante injustiça”, afirmam. Referem ainda que a autarquia propõe que “alguns produtores fiquem intercalados, entalados entre vendedores intermediários, mensais, só porque essas mesas ficaram desertas por serem indesejáveis”.

Num comunicado dirigido a todos os produtores agrícolas dos concelhos de Setúbal e Palmela, vendedores no Mercado do Livramento, a direcção da Associação de Produtores Agrícolas afirma que recebeu, na passada segunda-feira, a proposta da CMS sobre as suas exigências, “sendo confrontada com lugares no meio dos comerciantes e em número insuficiente, pelo que não podemos aceitar essas discriminações entre nós”, manifesta.

Por isso, exigem no mínimo, 60 lugares, com dois metros cada, todos juntos, em duas bancadas laterais, como estavam dispostos no antigo mercado. “Aceitamos pagar o valor justo pelas novas bancas, quando ficarmos nas duas bandas e não no meio de intermediários”, expressam os agricultores que pedem “respeito” pelos seus “direitos adquiridos”.

Adiantam ainda “não aceitar ameaças de não ficarem todos no mercado novo”, expressando que o novo mercado também lhes pertence e que não aceitam “discriminações”. “Vamos continuar a nossa luta pelas correcções de abusos, tornando o futuro Mercado do Livramento mais equilibrado e com espaço útil para todos”, concluem.

«O Setubalense» contactou com a vereadora Carla Guerreiro que explicou que estes produtores agrícolas “não têm uma actividade fixa no mercado”, o que, no entender da vereadora, “não justifica que todos os 120 produtores que estão registados – alternados semanalmente em dois grupos de 60 – tenham um lugar fixo”. A responsável indica que, em certos dias da semana, só estão no mercado 30 ou 40 produtores. No entanto, ao sábado “chegam a estar 60”, revela. Assim, a câmara decidiu colocar 43 bancas de 2m, sendo que, em dias que surjam mais produtores (até 50), se possa “adaptar o espaço”, diminuindo o espaço de cada banca até 1,50m. Esta foi a solução encontrada para evitar que “haja espaços vazios durante os outros dias da semana”, concluiu.

Fonte: O Setubalense

1 comentário:

  1. Na minha opinião, colocar os produtores no meio das mesas destinadas aos vendedores fixos do mercados (são os vendedores não produtores) significa ENGANAR o consumidor, uma vez que isto criará a confusão entre quem é produtor e quem não produtor. Assim, esta situação fará com que o consumidor compre produtos que julga ser do próprio produtor mas não o é, uma vez que os locais privilegiados estarão todos ocupados pelos vendedores-compradores.

    Além de considerar que esta é uma situação injusta, potenciadora do empobrecimento de algumas famílias que sempre cultivaram as suas terras, fornecendo este mercado com produtos de alta qualidade, esta é também uma medida de fazer com que os consumidores do mercado do livramento, que sempre se habituaram a adquirir os seus alimentos junto dos próprios produtores, por opção própria, sejam agora enganados por uma manobra de puro marketing comercial por parte dos vendedores não produtores deste mercado.

    A pedra basilar do surgimento deste mercado advém da criação de um espaço para servir a população, nomeadamente através da venda de produtos directamente do produtor. A evolução dos tempos ditou que a forma de os produtos chegarem aos consumidores fosse através de revenda, passando estes por vários intermediários.

    Neste momento, a Câmara Municipal de Setúbal está a conceder o direito de opção e escolha a todos aqueles que são simples intermediários da cadeia alimentar, relegando para o lixo os produtores.


    O problema fulcral desta situação é a real falta de espaço que o mercado possui. Pois bem, o mercado sempre teve as mesmas dimensões e sempre todos os tipos de vendedores coexistiram neste espaço que visa servir a população. É também mencionado pela Câmara Municipal que em muitas ocasiões existem produtores que não comparecem repetidamente no mercado, pelo que existiriam espaços que não seriam preenchidos. Para esta situação a solução passa, como bem sabemos, pela avaliação de cada um dos produtores e selecção dos mesmos, de acordo com a evidência do cultivo dos produtos vendidos. Esta selecção irá permitir que estes espaços se destinem realmente aos produtores e não aos que se inserem neste grupo, mas que são na realidade compradores de alguns produtos que depois apresentam no mercado.

    Após a selecção, é necessário realizar uma distribuição equitativa do espaço, tal como já existia, com a existência de uma fila de mesas destinadas para estes vendedores-produtores e não, coloca-los no meio dos compradores-vendedores, pois isto iria fazer com que estes segundos aumentassem os seus volumes de vendas às custas da fama dos produtos dos primeiros, potenciado o empobrecimento dos vendedores-produtores.

    Espero sinceramente que a Câmara Municipal de Setúbal encontre uma melhor solução do que esta apresentada e, não se deixe levar pela suas necessidades de financiamento junto dos vendedores.

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