quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Faleceu anteontem, aos 63 anos: Ilídio das Neves dirigiu a Polícia Judiciária de Setúbal durante 17 anos

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Ilídio das Neves Luís, ex-coordenador superior de investigação criminal da Polícia Judiciária, faleceu anteontem, no Hospital Garcia de Orta, em Almada, vítima de doença prolongada. 

O ex-director da PJ de Setúbal, cargo que ocupou durante 17 anos, reformou-se, voluntariamente, em 2003 dedicando-se, então, a uma grande paixão: a escrita. Amante desta terra e das suas gentes, Ilídio das Neves esteve envolvido em algumas das mais mediáticas investigações criminais, algumas das quais lhe deixaram uma grande frustração por não lhe ter conseguido deslindá-las.

Ilídio das Neves Luís, de 63 anos de idade, faleceu anteontem, no Hospital Garcia de Orta, em Almada, vítima de doença prolongada. Casado e pai de dois filhos, o ex-coordenador superior de investigação criminal da Polícia Judiciária residia, desde há largos anos em Almada e, durante 17 anos, foi director da PJ de Setúbal tendo sido sob a sua coordenação que foram descobertos, e resolvidos, alguns dos crimes mais mediáticos ocorridos na área sob a sua responsabilidade.

Nascido em Ansião, em 1948 e licenciado em Direito na Universidade Clássica de Lisboa, em 1981, Ilídio das Neves Luís foi também fuzileiro, com duas comissões de serviço em Angola e em Moçambique tendo, em 1977, iniciado a sua carreira como agente de investigação. Em 1981 ascendeu a inspector, posteriormente a inspector-coordenador e, finalmente, a coordenador-superior de investigação criminal.

Ao longo dos anos em que, por motivos profissionais, foram vários, e regulares, os contactos que mantive com Ilídio das Neves, cedo nasceu uma grande admiração pelo homem que, vivendo por dentro os piores instintos e reacções do ser humano, conseguia, no trato social, ser extremamente humano, prestável e sensível. Aliás, Ilídio das Neves sempre se mostrou disponível para com “O Setubalense”, jornal a quem deu a última entrevista (publicada a 10 de Janeiro de 2003), antes da sua reforma, voluntária, da Polícia Judiciária.

Aliás, na referida entrevista, o ex-coordenador da PJ de Setúbal revelou várias das suas facetas, enquanto profissional de investigação, para além do grande sentimento que tinha para com esta terra e as suas gentes, facto demonstrado na instalação de um escritório - já após a reforma - na área de Vila Maria, nesta cidade porque, como me revelou na altura, “vou ficar sempre ligado a esta terra e nada me dá mais prazer do que ter um espaço de trabalho virado para o rio e poder continuar a conviver com as pessoas que aqui habitam”.

Na referida entrevista, Ilídio das Neves falou-nos do tipo de criminalidade que, na altura da sua entrada na PJ de Setúbal, aqui encontrou, para além dos grandes casos mediáticos em que esteve envolvido, como, por exemplo, o assassinato do padre Alberto, em Águas de Moura, o desaparecimento de Tiago João, o caso Multibanco, o assassinato de Patrícia Sequeira e muitos outros, grande parte relacionada com tráfico de droga que, no período direccionado por Ilídio das Neves, registou algumas das maiores apreensões feitas no nosso país.

Aliás, naquela mesma entrevista, revelou-nos a sua mágoa por não ter conseguido deslindar o caso de Tiago João, que considerava “um falso problema”, uma vez que sempre se mostrou convicto de que o Tiago nunca chegou à serra da Arrábida, onde o seu desaparecimento foi dado como certo. Também no caso de Patrícia Sequeira, Ilídio das Neves sempre mostrou alguma frustração por não ter conseguido provar o autor da morta da menina mas, revelou, “sabemos quem é, mas uma coisa é saber e outra é provar”…

A cerimónia fúnebre de Ilídio das Neves, que está, desde ontem em câmara ardente na Igreja de Almada, sai hoje, pelas 9.30 horas, para o Cemitério de Ansião, sua terra natal.

Deixamos as palavras deste homem, durante a sua última entrevista a este jornal, quando questionado sobre que mensagem queria deixar aos setubalenses: “devo tanto a esta terra e a esta cidade que não sei que dizer… Que toda a gente seja feliz, que vivam em paz e segurança. Tenho muita confiança no futuro desta cidade…”.

Fonte: O Setubalense

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