António de Melo Pires é o primeiro português a assumir a direcção da Autoeuropa e a sua gestão está a ser um sucesso. De Janeiro a Julho deste ano, a produção da fábrica de Palmela duplicou em relação a 2010. São produzidos 600 carros por dia a uma média de um por minuto. Números impressionantes que farão de 2011 o melhor ano de sempre da Autoeuropa.
«O Set.» - Como está ser este desafio à frente da fábrica de Palmela?
António de Melo Pires - A Volkswagen Autoeuropa tem em Portugal e na região de Setúbal um impacte económico e social incontornável. Os desafios que se enfrentam diariamente nesta indústria, onde a concorrência é acirrada, passam necessariamente pelo envolvimento de toda a estrutura humana da empresa no processo de reinvenção dos métodos de trabalho. Potenciar as vantagens e superar as desvantagens competitivas é uma constante. A busca da melhoria contínua e a inovação nas várias áreas de trabalho já fazem parte do nosso código genético empresarial. A nossa história é feita de vencer desafios e por isso aquele que enfrentamos agora é necessariamente grande, mas estamos a ganhar em toda a linha.
«O Set.» – Foi o primeiro português assumir esta função. Como foi para si esta distinção profissional?
A.M.P. - Naturalmente que é honroso, como português e como profissional, trabalhar numa empresa da minha região de origem, onde cresci e vivi. Mas numa multinacional global como é o grupo Volkswagen, as nacionalidades ficam em segundo plano.
«O Set.» - Como está a ser este ano a produção da Autoeuropa?
A.M.P. - Aproveitando o bom momento de alguns mercados, e fazendo apelo à nossa capacidade de trabalho e flexibilidade de produção para responder em tempo às encomendas dos clientes, foi possível subir a produção para a capacidade máxima em dois turnos, o que já não acontecia há muitos anos. Está a ser um ano muito bom.
«O Set.» - Perante a crise económica e financeira internacional como encara o futuro da empresa?
A.M.P. – Estamos a atravessar um momento muito bom porque beneficiamos de um grupo de produtos que está na sua fase de juventude, ou seja, tem um mercado muito bom. O novo VW Sharan que lançámos no ano passado está a ser um sucesso no mercado, não temos para os próximos meses carros suficientes para as encomendas. Os outros modelos mais antigos, VW Scirocco (coupé) e o VW Eos (cabrio) estão a vender-se muito bem. Temos a nossa capacidade máxima de turnos preenchida. O próximo ano também se prevê que seja bom.
«O Set.» - E o mercado da China como está neste momento?
A.M.P. – Exportamos o Scirocco para a China que está vender muito bem. O Eos está ainda numa fase de distribuição nos concessionários chineses. A partir de Outubro vamos começar a fabricar o Sharan para este mercado.
«O Set.» - Quais são os principais mercados da Autoeuropa?
A.M.P. – O principal mercado continua a ser a Alemanha, logo seguido de Inglaterra. São esses os principais mercados.
«O Set.» – Se em vez da VW tivesse sido a Ford a ficar com a fábrica de Palmela, a Autoeuropa, na sua opinião, hoje seria a mesma?
A.M.P. - As duas empresas têm culturas muito diferentes. Para além da óbvia racionalidade financeira que é necessário manter, a Volkswagen incorpora na sua cultura uma grande preocupação social bem como a filosofia de gestão participada. Para além disso, é uma empresa dirigida por técnicos com um foco muito forte na inovação e engenharia do produto, em paralelo com a preocupação de rentabilidade de capital. Tem sido este modelo que tem permitido ao nosso grupo ultrapassar épocas de crise sem grandes convulsões, apostando simultaneamente numa estratégia de crescimento.
São aspectos que as multinacionais de base americana normalmente não levam em linha de conta, dentro da sua estrita racionalidade decisória de rentabilização de capital. Se a Volkswagen não tivesse assumido o capital da Autoeuropa e feito aqui os grandes investimentos subsequentes, talvez hoje já não existíssemos.
«O Set.» - Em percentagem quanto participa a comissão de trabalhadores nas decisões da fabrica?
A.M.P. - A comissão de trabalhadores é envolvida e consultada em praticamente todos os processos da nossa empresa. Sobretudo em todos aqueles que dizem respeito aos nossos colaboradores, mas também nos de carácter mais estratégico, como por exemplo, planos de investimento. Mantemos reuniões regulares sobre vários assuntos e a vários níveis.
«O Set.» - Qual a responsabilidade social da empresa na região?
A.M.P. - Temos várias actividades de responsabilidade social. A comissão de trabalhadores tem uma campanha, feita a nível de todo o grupo Volkswagen, baseada nos cêntimos que restam. Consiste em que todos os cêntimos até 0,4 são canalizados para um fundo que é gerido pela comissão de trabalhadores em prol de várias actividades de carácter social como o apoio a instituições carenciadas ou de outro tipo. Além disso, o ano passado, criou-se um grupo de trabalho com três vertentes diferentes em termos de responsabilidade social. Uma tem como objectivo promover o voluntariado em prol de acções sociais, outra na área da ecologia e promoção de actividades ambientais e a terceira na área de cultura. São actividades voluntárias, extra trabalho normal, como por exemplo a árvore solidária feita no Natal passado em que se deu presentes para uma série de instituições de apoio a crianças.
«O Set.» - Como está a hipótese de patrocinar a equipa do Vitória?
A.M.P. – Este ano já não vai ser possível. A hipótese está ainda a ser discutida e estamos à procura de soluções para os próximos anos.
«O Set.» - Qual a mensagem que quer deixar aos trabalhadores da Autoeuropa?
A.M.P. – Uma mensagem de agradecimento e apoio em relação àquilo que temos conseguido até agora. Também o seu esforço. Acabámos de fazer uma paragem de Verão que em vez de três foram duas semanas, porque precisávamos de produzir e as pessoas aceitaram isso. Enfim, a flexibilidade demonstrada tem transformado a Autoeuropa numa empresa de futuro e por isso defendem o seu posto de trabalho.
«O Set.» - Qual a sua relação com Setúbal?
A.M.P. - Setúbal continua a ser a cidade onde vivo e onde está grande parte das minhas referências e actividades. Contudo, e comparando com outras cidades de Portugal, penso que é uma cidade que se atrasou no tempo, que ainda não encontrou a sua vocação, nem conseguiu criar ou promover uma imagem própria de forma clara. Mas, fazendo o paralelo com outros centros urbanos portugueses e europeus de dimensão equivalente, tem potencial para ser uma cidade com um dos melhores níveis de qualidade de vida.
«O Set.» - Quais as imagens que guarda da nossa cidade? Por exemplo quando esteve no exterior.
A.M.P. - Setúbal é indissociável do azul. O rio Sado, Tróia e a Arrábida são imagens que permanecem para sempre no imaginário, tanto para nós setubalenses, como para quem visita a nossa terra.
Retrato
- Idade: 53 anos
- Natural: Lisboa
- Residência: Setúbal
- Data de Nascimento: 25 de Setembro de 1957
- Uma imagem: Os rebocadores de cor laranja no azul do rio
- Uma cor: Ocre
- Um desejo: Que Setúbal encontre a sua vocação como cidade da ecologia. Talvez seja possível voltar a apanhar ostras no rio como era tradicional na Páscoa
- Prato favorito: Salmonetes grelhados com molho de manteiga
- Destino de sonho: Qualquer lugar onde a beleza natural impere
- Personalidade que mais admira: D. João II
- Refúgio preferido em Setúbal: Castelo de S. Filipe
Frases:
“A nossa história é feita de vencer desafios e por isso aquele que enfrentamos agora é necessariamente grande, mas estamos a ganhar em toda a linha”.
“Naturalmente que é honroso, como português e como profissional, trabalhar numa empresa da minha região de origem, onde cresci e vivi”.
“Setúbal continua a ser a cidade onde vivo e onde está grande parte das minhas referências e actividades”.
Fonte: O Setubalense
Fonte: O Setubalense
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