quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Setúbal: Socorristas encontram “cenário de horror”: “Todos eles morreram esmagados”

Corpos desmembrados e irreconhecíveis por entre os escombros da derrocada. Foi num “cenário de horror”, pelas 17h00 de ontem, que as equipas de socorro resgataram os corpos de cinco trabalhadores, mortos depois da queda de uma parede do Mercado Municipal do Livramento, em Setúbal. 

“Em 40 anos de trabalho nunca vi nada assim. A parede caiu sem aviso e todos os meus colegas morreram esmagados”, diz ao CM José Cláudio, funcionário de uma empresa subcontratada para realizar a obra de ampliação daquele mercado. 
Apesar da dimensão da tragédia, conseguiu resgatar com vida o colega David, que na altura operava uma retroescavadora. “Foi a sorte dele. Ficou protegido pela máquina, senão estávamos a chorar a morte de mais um colega”, diz, depois de ter visto morrer todos os outros cinco que estavam junto à parede que caiu.    
João Safeira, 57 anos, de Setúbal; José Mesquita, 31, Celestino Malumar, 38, Mamadu Djaló, 37, e Alberto Silva, 56, todos residentes no Norte do País, tiveram morte imediata. 
“Quando os resgataram nem os tentaram reanimar. Meteram-nos logo em sacos de plástico”, conta um popular, que assistiu aos trabalhos de socorro. 
Os corpos só hoje serão sujeitos a tentativa de reconhecimento por parte das famílias. A correspondência entre as identidades e os corpos na morgue ainda não era ontem possível, dado que os mesmos estão irreconhecíveis. 
Hoje, uma equipa de apoio da empresa encarregue das obras de recuperação do mercado, a ABB - Alexandre Barbosa Borges S.A., estará em Setúbal a acompanhar as famílias no processo de reconhecimento dos corpos. Segundo informação ontem avançada pela presidente da Câmara de Setúbal, Maria das Dores Meira, em conferência de imprensa, três vítimas são portuguesas e duas são de nacionalidade estrangeira.

VIZINHOS DENUNCIAM ESCAVAÇÕES NO LOCAL 

A empresa ABB (Alexandre Barbosa Borges S.A.), a quem a Câmara de Setúbal adjudicou as obras de renovação do Mercado Municipal do Livramento (encerrado entre Outubro de 2010 e Novembro de 2011), estava também responsável pela obra, de ampliação, que originou a tragédia de ontem à tarde. 
A construtora ia dotar o Mercado do Livramento com uma área técnica para cargas e descargas, câmaras frigoríficas e uma central de tratamento de lixo. Esta segunda fase das obras deveria ter acabado no final de 2011. Nas últimas semanas, e segundo testemunhas disseram ontem aos jornalistas, retroescavadoras foram vistas a escavar junto à parede que ruiu. Luís Bernardo, dono da Casa de Bifanas, afirma ter testemunhado. Já Florindo Figueiredo, que tem uma banca no interior do mercado, frisou ter avisado a câmara de que a parede que ontem ruiu “estava cheia de humidade e em risco de desabamento”. 
Trabalhadores da ABB desmentiram esta versão. Na realidade, assegurou José Cláudio, um dos trabalhadores da firma, “a empresa estava a pôr betão nas traseiras do mercado para, nos próximos dias, começar ali a erguer uma parede”.

Fonte: Correio da Manhã

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