sexta-feira, 16 de março de 2012

Morreu o "Zé dos Gatos"

José Maria Tavares foi a sepultar, na manhã de ontem, no cemitério de Algeruz. O ‘Zé dos Gatos’ como ficou celebrizado na cidade, era, desde há cerca de um ano, utente do centro de dia N.ª S.ª da Paz, da Cáritas, e pernoitava em sua casa, vigiado por uma sobrinha.

Cerca de meia centena de pessoas acompanharam o cortejo fúnebre de José Maria Tavares, vulgo ‘Zé dos Gatos’, à sua última morada, na manhã de ontem, no cemitério da Paz, Algeruz.

Falecido no hospital de S. Bernardo aos 85 anos de idade (completados no passado mês), ali esteve internado durante dois dias, denotando uma enorme debilidade física, particularmente motivada por crónico problema de diabetes.

Figura popular e incontornável, ‘Zé dos Gatos’ ou ‘Zé Maluco’, como era popularmente conhecido em Setúbal e arredores, sempre manteve um modo de vida diferente, algo irreverente e controladamente marginal às regras da sociedade.

José Maria Tavares tratava por “tu” as cartas, a magia e as apostas. E não admita que fizessem mal a um animal, particularmente um gato. Passou privações, mas os seus amigos de quatro patas não podiam passar fome, nem maus tratos.

Na manhã de anteontem, coube ao diácono Evangelino presidir à missa de corpo presente, na capela de N.ª S.ª da Conceição, sita na avenida Bento de Jesus Caraça. “Esta vida é uma passagem, seja para pessoas ricas, pobres, importantes ou menos importantes, e uma regra principal é não fazermos aos outros o que não queremos que façam a nós”, disse na sua homilia.

Para o diácono Evangelino “as boas acções nesta caminhada pela vida, são a maior riqueza que levamos. Deus vai perguntar a este nosso irmão, José, pelas boas acções praticadas em vida, e será julgado por isso…”

José Tavares passou os últimos tempos no Centro de Dia “Padre Camilo”, da Cáritas Diocesana, na Bela Vista. A coordenadora daquela valência da instituição, falou-nos desta figura pública: “Revelou-se uma pessoa meiga e ternurenta, mas tinha um grave problema de diabetes, que o descompensou imenso, a ponto de, há cerca de duas semanas, ter trocado as bengalas pela cadeira de rodas”.

Isabel Jordão lembra este utente como “muito egocêntrico, amigo dos animais, nada rancoroso, brincalhão e amoroso. Falava muita da morte, mas logo dizia que dava a sua vida por nós…”

Já no centro de dia da Cáritas, o Zé dos Gatos acedeu a cortar as barbas e a tomar banho regularmente. Mais recentemente, ainda houve uma tentativa de internamento desta incontornável personagem popular no Lar Acácio Barradas, da Santa Casa da Misericórdia.

Tentativa inglória porque só lá esteve uma noite, como recordou Isabel Jordão ao nosso jornal: “Apanhou um táxi, e apareceu-nos cá. Dizia que era aqui que queria estar, que era aqui tinha os seus amigos. E cá ficou…”

A bandeira do Município de Setúbal cobriu a sua urna, no percurso compreendido entre a capela de N.ª S.ª da Conceição e o cemitério de Algeruz. Sem que a Câmara Municipal se tivesse feito representar na cerimónia fúnebre, tal acto foi da inteira responsabilidade de um indivíduo que usou, de forma claramente abusiva, uma condição marcadamente de cariz institucional. Aliás, fonte da presidência do município, contactada pelo nosso jornal, revelou desconhecer o caso, demarcando-se de tal atitude individual.

Fonte: O Setúbalense


 

"Fica em paz Zé!"

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