Filha de Miguel Torga apresenta “Diário” de Sebastião da Gama

A versão integral do “Diário” de Sebastião da Gama foi lançada no passado sábado em Setúbal perante uma sala cheia interessada na obra do poeta da Arrábida.

Várias dezenas de pessoas assistiram ao lançamento da nova edição do “Diário”, primeiro volume das obras completas de Sebastião da Gama, anteontem ao final da tarde, no Salão Nobre dos Paços do Concelho.

A obra que apresenta um texto fixado e anotado por João Reis Ribeiro, professor e presidente da Associação Cultural Sebastião da Gama foi apresentada por Clara Rocha, filha do escritor Miguel Torga. Na cerimónia participaram ainda a viúva do poeta, Joana Luísa Gama, o governador civil, Manuel Malheiros e Manuel Aquino, responsável da Editorial Presença, que editou a versão completa, pela primeira vez do “Diário”.

Clara Rocha, especialista em escrita autobiográfica e professora na Universidade Nova de Lisboa, lembrou a relação de amizade Miguel Torga (pseudónimo de Adolfo Correia Rocha) com Sebastião da Gama, tendo havido um encontro na Arrábida. Sebastião da Gama foi ainda aluno de Andrée Crabbé (mãe de Clara Rocha), que foi demitida pelo Salazar e a quem o poeta da Arrábida escreveu uma carta de apoio que faz parte do espólio de Miguel Torga. Elogiou o texto de João Reis Ribeiro (que foi seu aluno). “João Reis Ribeiro não é apenas um estudioso do poeta, à qual dedicou vários trabalhos, é também investigador de coração generoso e à altura do autor”. Elogia ainda o prefácio que “fornece ao leitor elementos e cronologia do autor”.

Por sua vez, o vereador Carlos Rabaçal realçou que Sebastião da Gama é “um admirável poeta” e “um orgulho das gentes de Setúbal e Azeitão”. Classificou este projecto de “ousado” destacando a “coragem” da editora em lançar a obra “neste momento difícil para Portugal”. O autarca salientou o “notável trabalho” da Associação Cultural Sebastião da Gama e do presidente João Reis Ribeiro, que é na sua opinião, “a sua alma”.

Manuel Aquino, da Editorial Presença lembrou que este projecto “preparado há algum tempo não foi fácil mas acabou por acontecer” sublinhando que “Sebastião da Gama honra a cidade de Setúbal” e a sua obra é uma lição para os professores porque contém referências pedagógicas ainda hoje válidas. Citou uma frase do “Diário”, em que o poeta refere que para ser professor é preciso ter as mãos purificadas. “Para receber a poesia também é preciso ter as mãos purificadas” adiantou.

A cerimónia foi abrilhantada com a leitura de alguns excertos do “Diário” pelo actor setubalense Fernando Guerreiro.

Florindo Cardoso