quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Actor Álvaro Félix: “A cidade onde eu nasci merecia mais cultura!”


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Actualmente a trabalhar por conta própria, após ter sido conduzido a abandonar o Teatro Animação de Setúbal, o actor Álvaro Félix é ainda uma referência artística na cidade, apesar do trabalho escassear. «O Setubalense» foi ao seu encontro, na Flôr do Sado, café de que é proprietário, onde nos deu a conhecer um pouco melhor o artista que há em si.

“Tenho espectáculos para tudo: peças infantis, mini-revistas, rábulas, um catálogo completo…as pessoas é que não procuram!”, revela Álvaro Félix, que se queixa que “nesta cidade, o trabalho está muito escasso”.

Os primeiros passos na arte dramática foram dados ainda antes do 25 de Abril de 1974, na antiga paróquia da Anunciada, com um grupo de teatro que, já depois da revolução, deu origem ao teatro “Sobe e Desce”, onde actuava em conjunto com Victor Serra, José Maria Dias, Pompeu José e António Carlos.

Após o fim do grupo, percorreu praticamente todos os grupos de teatro amador da cidade: “A Teia”, a “Presença”, o Grupo de Teatro Amador Fontenova, sendo que o primeiro trabalho deste grupo foi protagonizado por ele, em parceria com Fernando Guerreiro. Criou o “Contracena”, grupo de teatro só de peças infantis, do qual também fez parte o actor Duarte Victor, que depois ingressou no Teatro Animação de Setúbal (TAS). Foi o primeiro actor do “Espelho Mágico” e fez espectáculos para a Associação de Moradores do Bairro da Anunciada (AMBA).

Ingressou na Capricho Setubalense, porque “tinha curiosidade em experimentar o teatro de revista”. Daí, deu “o salto para o TAS”, refere, onde esteve durante 16 anos, até à morte do director da Companhia, Carlos César. “Após a morte dele, a companhia teve que ser reduzida porque estava a ser estrangulada economicamente e eu fui um dos actores convidados a sair”, indicou.

A partir daí, viu-se obrigado a enveredar pelo comércio, para subsistir. “Por sorte minha, arranjei este espaço”, diz, referindo-se ao café que gere na av. Luísa Todi – “Flôr do Sado”, há cerca de seis anos. Uma aventura, dado que não tinha qualquer experiência na restauração. “Nem sabia o que era um “abatanado””, confessa.

No entanto, o teatro continua a fazer parte da sua vida, uma paixão que cedo despertou no actor. “Já em miúdo, com 6 ou 7 anos, fazia rir os miúdos que andavam na escola comigo”, refere, alegando que se trata de “um fenómeno” para o qual não tem explicação, dado que a sua família “sempre foi contra o teatro”.

Actualmente ao sabor da maré, Álvaro Félix revela: “estou nos projectos todos e não estou em nenhum! Sou freelancer, trabalho onde me convidarem”. O problema é que, os convites são escassos. O actor expõe que, “em Setúbal os artistas sofrem na pele quando fazem críticas ao sistema. Já me têm vindo contratar para trabalhos, está tudo assente, mas passados uns dias, reaparecem aqui a dizer: “propus o teu nome mas não quiseram”.

O artista explica que esta situação se deve ao facto dele “não dizer bem do Fórum Luísa Todi como está, nem da ciclovia que está esburacada”. Sempre muito crítico, o artista refere: “Acho que a cidade onde eu nasci merecia mais cultura, não temos uma sala de espectáculos, não temos nada…precisamos de pessoas competentes para fazer mexer a cidade”.

A sua consciência cívica levou-o a fazer parte das listas da Comissão Política Concelhia de Setúbal do Partido Socialista, nas últimas eleições autárquicas, em 2009. “E se ainda for vivo, hei-de fazer parte outra vez. Porque há que mudar!!”, disse com veemência, alegando que “só há uma possibilidade, que é haver união entre PS e PSD, caso contrário isto não anda para a frente!”.

O actor de 60 anos, que chegou a percorrer o país de lés a lés, durante dois anos, a fazer vários “bonecos” em directo para um programa da RTP2, mostra-se descrente no futuro. “O meu projecto para o futuro é viver um dia de cada vez”, diz, acrescentando que “é tudo tão inconstante neste país desacreditado, de atrasados mentais, de ladrões, que não vale a pena projectar nada”.

Fonte: O Setubalense

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