sexta-feira, 29 de julho de 2011

Sandro 'Bala': “Eu era um mal necessário”

Procurado pelas autoridades portuguesas, Sandro Lima, mais conhecido por Sandro ‘Bala’, está a viver nos arredores de Brasília, no Brasil, desde Dezembro de 2009, com a mulher e três filhos.

Apontado como cabecilha de um grupo que se dedicava ao controlo da segurança privada nos estabelecimentos de diversão nocturna na zona de Lisboa e arredores, exigindo elevadas quantias em dinheiro através de ameaças e actos violentos, Sandro não nega as acusações que lhe são feitas: "Nunca neguei que trabalhei como segurança e que fiz cartas de recomendação para colocar brasileiros a trabalhar em Portugal".

Em declarações ao CM, ‘Bala’ admite que trabalhou como segurança sem ter o seu cartão de vigilante renovado pelo Ministério da Administração Interna. "A segunda vez que fui renovar não me deixaram porque já tinha alguns processos por confusões". Estas "confusões" traduziam-se em dois crimes de ofensa à integridade física qualificada.

Sandro confessa também que não é pessoa de "fugir" nem de "levar desaforos para casa".

"Eu era um mal necessário da noite lisboeta", diz o brasileiro de 40 anos. "Ninguém queria fazer segurança nas festas africanas e brasileiras, mas eu fazia e não fugia das confusões".

Em conversa com o CM, Sandro admitiu ter organizado três competições de jiu-jitsu e ter feito "cartas de recomendação para três alunos da academia de Brasília". "Eu não sou santo", assegura, acrescentando que ajudou compatriotas a viajarem para Portugal.

Sobre a sua chegada à empresa de segurança privada Olho Vivo, arguida no processo ‘máfia brasileira’, ‘Bala’ hesitou um pouco, mas acabou por se lembrar de como tudo aconteceu. "Entrei para a Olho Vivo quando trabalhei na discoteca Queens, em Lisboa, pois era essa a empresa que fazia lá segurança e eu tive de me vincular".

Sobre a mítica frase "quem manda na Margem Sul sou eu", Sandro, com algum embaraço, nega que a mesma seja da sua autoria. "Como vou mandar na Margem Sul…?", pergunta.

DE EMPREGADO A SEGURANÇA

Sandro chegou a Portugal no Verão de 2000. Nessa altura, trabalhou em restaurantes a servir às mesas, e ainda numa adega de vinhos. Mais tarde começou a trabalhar como segurança num café em Almada e só depois, em 2001, começou a dar aulas de jiu-jitsu no complexo municipal da mesma cidade.

DISCURSO DIRECTO

"EU NÃO SOU UM SANTO", Sandro ‘Bala’ fala sobre a sua ida para o Brasil

Correio da Manhã – Porque fugiu para o Brasil?

Sandro – Eu não fugi. A minha passagem já estava comprada há vários dias. Sempre passei o Natal e a Passagem de Ano com a minha família no Brasil. E o meu irmão também estava a precisar de mim.

– É uma pessoa que se irrita com facilidade?

– No trabalho da noite eu lido com drogados, bêbedos e todo o tipo de gente. Eu evito ao máximo a confusão, mas nunca viro as costas. Eu não sou nenhum santo.

– De onde vem a alcunha ‘Bala’?

– Foi o meu mestre Banni Cavalcant que me pôs esse nome. Eu era um jovem que, apesar de ter 90 quilos, era muito rápido no tatame, então fiquei Sandro ‘Bala’.

– Recrutava alunos para serviços de segurança?

– Alguns alunos trabalhavam comigo em festas que ninguém queria fazer.

25 ARGUIDOS EM TRIBUNAL

O julgamento da máfia brasileira, que teve início em Abril deste ano, tem decorrido sob fortes medidas de segurança.

As audiências tiveram início no Tribunal do Seixal e contaram com a presença de equipas do Grupo de Intervenção de Segurança Prisional e da Unidade Especial da Polícia, com agentes fortemente armados. Em Junho, foi transferido para o Tribunal de Monsanto por uma questão de logística.

À entrada do tribunal, todas as pessoas tinham de ser revistadas, até mesmo os funcionários judiciais que em Maio passado organizaram um protesto contra o "excesso de zelo". Tanto o colectivo de juízes como a procuradora do Ministério Público (MP) estão com protecção pessoal da PSP desde Março. A própria sala de audiências foi encerrada uma semana antes do início do julgamento para prevenir eventuais ataques a arguidos, juízes e advogados.

Em Maio, chegou a haver uma troca de insultos e agressões entre um agente e um dos arguidos, Artur Lemos. Ao todo são 25 os arguidos que estão acusados de mais de cem crimes, entre os quais homicídio, sequestro, segurança privada ilegal e homicídio tentado. Por estarem fugidos, ‘Bala’ e Wanderley Silva serão julgados num processo à parte. De acordo com o Ministério Público, o grupo "impunha segurança privada em estabelecimentos de diversão nocturna e exigia avultadas quantias em dinheiro através de actos violentos e ameaças.

ATAQUE POR VINGANÇA NA COSTA DE CAPARICA

Sandro ‘Bala’ está acusado, entre outros crimes, de ser o co--autor material de um homicídio tentado. A vítima, Fábio Silva, procurado pela Interpol por roubo e homicídio no Brasil, era ex--cúmplice da ‘máfia brasileira’. Denunciou às autoridades o grupo de ‘Bala’ e seis dias depois foi alvejado por dois dos seus elementos. Segundo a vítima, na noite em que foi baleado cruzou--se duas vezes com ‘Bala’, que o observou em tom de ameaça. Quando saiu do bar onde estava com uns amigos, Fábio caminhou sozinho na rua da discoteca Renhau-Nhau, na Costa de Caparica, e foi alvejado: primeiro pelo Wanderley Silva, que não conseguiu acertar e, mais à frente, junto ao Hotel Real, pelo Miguel Silva, que disparou três cartuchos de caçadeira certeiros. Sandro ‘Bala’ negou ao CM conhecer "esse cidadão".

Fonte: Correio da Manhã

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