sábado, 16 de abril de 2011

Contra actual sistema de turnos e insuficiente número de efectivos, Sapadores admitem fazer vigílias, manifestações e greve se não houver acordo

Alegando que as “vidas e haveres da população estão em risco”, a ANBP – Associação Nacional de Bombeiros Profissionais, mostra-se contra o actual sistema de turnos vigente na Companhia de Bombeiros Sapadores de Setúbal, que, de acordo com a associação, obriga elementos a fazerem até 60 horas semanais, devido à sobreposição de turnos e ao insuficiente número de efectivos. A associação e o sindicato ameaçam realizar vigílias, manifestações e até greve, caso a autarquia não ceda às reivindicações dos sapadores.

O presidente da ANBP, Fernando Curto expõe que a Companhia de Bombeiros Sapadores de Setúbal (CBSS) tem falta de 39 bombeiros e refere que não entram bombeiros na companhia desde 2006, sendo que, só este ano “vão sair nove bombeiros”.

Com o novo sistema de cinco turnos, em vez de quatro, existem, de acordo com a associação, menos elementos de reforço, que “são chamados à folga e pagos como horário extraordinário a 200% continuando com um défice de quatro a cinco elementos por turno, em relação ao horário anterior”, expressou o responsável, ontem, em conferência de imprensa.

“O actual horário não salvaguarda as faltas inesperadas, ficando o turno desguarnecido o que chega a provocar a paragem de viaturas!”, esclarece o dirigente sindical. Adianta ainda que, se com o anterior horário, a câmara alegava ser “ilegal fazer 48 horas semanais, então com o actual horário e com a sobreposição de turnos e o reforço, com elementos a efectuarem até 60 horas semanais, não é ilegal?”.

No que se refere às viaturas, Pedro Dinis, do secretariado regional da ANBP/SNBP refere que “existe um défice grande de viaturas”, alegando que aguardam “há largos anos, por um veículo de Salvamento e Desencarceramento Pesado”, que considera ser “essencial ao socorro no concelho de Setúbal”. O responsável indica ainda que existe apenas um auto-tanque, sendo que o outro “está na oficina há já dois anos”.

Para exemplificar a alegada situação de risco de vidas e bens da população, alegada pela ANBP e pelo SNBP, um dos sapadores presentes na conferência exemplificou com uma situação que se terá passado em Azeitão, durante um incêndio em habitação. De acordo com o sapador, a única viatura disponível no Destacamento de Azeitão era vocacionada para incêndio em mato e devia ser operacionalizada por 4 efectivos, no entanto só havia dois homens disponíveis. O apoio, que veio de Setúbal, “demorou 35 minutos”, indicou, adiantando que “os andares debaixo da habitação, com 20 assoalhadas e 14 pessoas, foram tomados pelas chamas”, o que, para aquele soldado da paz, “constituiu um perigo real”.

O Destacamento de Azeitão “não possui as condições mínimas para que os bombeiros sapadores prestem o respectivo socorro”, dizem os dirigentes da ANBP que se opõem à alegada pretensão da câmara em tornar o actual destacamento de Azeitão da Companhia de Bombeiros Sapadores de Setúbal num quartel de bombeiros voluntários.

A associação põe ainda em causa a compatibilidade e legalidade do facto do cargo de Coordenador da Protecção Civil Municipal estar a ser desempenhado por José Luis Bucho que é também Presidente da Direcção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Setúbal. Segundo Fernando Curto, o coordenador “não pode dar parecer em causa própria”, o que, segundo o dirigente, acontece, havendo assim um “conflito de competências”. “Não pode, enquanto presidente de uma Direcção de bombeiros Voluntários a quem a câmara dá subsídios, comparticipações em viaturas, e ajudas financeiras, opinar sobre meios que os bombeiros sapadores necessitam!”, expressa o presidente da ANBP.



MEDIDAS Neste contexto, a ANBP e o SNBP vai pedir uma audiência com a presidente e o vereador com o pelouro da Protecção Civil, e enviar à câmara municipal um memorando, a pedir que haja um repensar da actual situação de efectivos, viaturas, horas extraordinárias, Destacamento de Azeitão, etc. Caso não sejam ouvidos ou não consigam chegar a um entendimento, os Sapadores dizem estar prontos para realizar manifestações locais e nacionais; vigílias frente aos Paços do Concelho e, possivelmente, uma greve.

“Temos noção que os problemas não se resolvem de um dia para o outro, num estalar de dedos, mas tem que haver um projecto para resolver as questões”, resume Fernando Curto. O dirigente alega ainda estar disponível para um debate público com o vereador “para efectivamente a população saber quem diz a verdade e quem está verdadeiramente preocupado com a segurança da vida e dos haveres dos sadinos”.

Vera Gomes/Setubalense

Sem comentários:

Enviar um comentário