terça-feira, 13 de setembro de 2011

Carlos Martins da Fonseca, pintor, fotógrafo e poeta “Não vendo as minhas obras porque não se vendem os filhos!”

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Nasceu em Cabo Verde mas está em Portugal desde 1975, dividindo a sua vida entre Lisboa e Setúbal, sendo que é pela cidade sadina que nutre uma grande paixão, que imortaliza através do pincel, da caneta e da máquina fotográfica. Falamos de Carlos Martins da Fonseca, septuagenário que, após a reforma, se dedicou à arte, que versa apenas e só os encantos da terra natal de Bocage.

Prestes a completar 72 anos de idade, Calos Martins da Fonseca tem a decorrer, neste momento, uma mostra dos seus trabalhos, que “versam apenas e só o tema Setúbal”, sublinha o artista cabo-verdiano.

A viver em Portugal há 35 anos, escolheu a cidade de Bocage como tema das suas obras, considerando-a “uma cidade de encantos e mistérios”, onde passa uma grande parte do seu tempo e onde descobriu o gosto pela pintura e “largos motivos de inspiração”, apaixonando-se “de vez e totalmente pela cidade e suas gentes”, manifesta.

A exposição, actualmente patente na loja “Fugas Lusas”, sita no largo da Ribeira Velha, em Setúbal, terá várias etapas, em que são reveladas diferentes obras, em diversos suportes. Assim, numa primeira fase, vão estar expostas pinturas a óleo e acrílico sobre tela, aguarelas e desenhos. Mais tarde, o artista revela a sua veia de fotógrafo, com a exposição “Setúbal em contraluz”.

Sendo um “avô a tempo inteiro”, como gosta de dizer, dedica-se também a incutir nos cinco netos - quatro rapazes e uma rapariga, o gosto pela pintura, sendo que, a última etapa da exposição revela as pinturas sobre tela feitas pelos netos, acompanhadas das fotos, capturadas pelo próprio Martins da Fonseca, que ilustram o processo de criação dessas obras.

Durante toda a mostra, que teve início no passado dia 27 de Agosto e que se prevê que dure cerca de dois meses, estão também à disposição dos visitantes, diversos livros de contos, contos infantis, alguns ilustrados pelo próprio autor, ensaios e poemas em formato reduzido. “Cinco Contos de Natal”; “Poesia? …talvez…!”; “Mares Revoltos”; “Biografia de Bocage no enquadramento da sua obra poética”; “Histórias que me foram contadas”; “O Leão Vaidoso”; “Namarrocolo, conto infantil baseado em contos tradicionais Rongas (Sul de Moçambique); são alguns dos títulos que podem ser encontrados naquele espaço.

A ideia, segundo o autor, é “proporcionar uma leitura, enquanto se bebe uma "bica", se foge ao calor, bebericando um chá gelado, ou um refresco para matar a sede ou o que mais se quiser e puder fazer”, diz, alertando, no entanto, que os quadros não estão para venda. “Não vendo as minhas obras, porque também não se vendem os filhos!”, afirma.

Nascido na Vila da Ponta do Sol, Ilha de Santo Antão, em Cabo Verde, então colónia portuguesa, em 17 de Setembro de 1939, Carlos Martins da Fonseca abandona, aos seis meses de idade, a sua terra natal, por força da actividade profissional do seu pai, que desempenhava funções como funcionário aduaneiro.

É na cidade do Mindelo, na Ilha de S. Vicente, que inicia a sua actividade escolar, partindo mais tarde, ainda em função da actividade profissional do pai, para Moçambique, onde praticamente desenvolve quase toda a sua vida académica, militar, e uma parte significativa da profissional, percorrendo o país de norte a sul e de leste a oeste, conhecendo-o como poucos.

A vida militar acompanha-o durante um grande período da sua vida, quer na actividade normal obrigatória, e mesmo depois de desmobilizado acompanha a sua mãe, Maria de Lourdes Fonseca, apelidada de “madrinha dos soldados”, em Moçambique, Angola e Guiné. “Apesar de paraplégica, devido a um acidente, a minha mãe criou um movimento de apoio ao soldado combatente, correspondendo-se com centenas de militares”, recordou o artista.

Ainda em Moçambique, praticou diversas modalidades desportivas, tendo sido federado nalgumas delas, como o andebol, remo e natação.

À semelhança do seu pai, enveredou pela carreira de funcionário aduaneiro, tendo trabalhado em alfândegas moçambicanas e portuguesas. Aposentado desde 1995, Martins da Fonseca é casado, é pai de dois filhos e uma filha e avô de cinco netos.

Dedicado às artes, o septuagenário, que recebe aulas do professor João Inglês, expõe, habitualmente, com o patrocínio da Câmara Municipal de Setúbal, na Biblioteca Municipal. Muito recentemente expôs no quarto piso da Galeria do Hospital de Santiago (HOSPOR), em Setúbal e igualmente em Coimbra, onde Setúbal “foi mostrada com dignidade”, referiu, indicando que “as críticas foram simpáticas, quer a nível da imprensa local, como na nacional e regional e ainda no programa televisivo Portugal em Directo”.

A sua obra debruça-se principalmente sobre “os recantos e encantos de Setúbal, essa cidade de muita história, encantos, amores e mistérios”, imortalizando na tela locais como a praça do Bocage, o rio Sado, os jardins da cidade, as igrejas, as ruas e vielas do centro histórico, etc.

Fonte: O Setubalense

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